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ENSINAR A RESISTIR

Como a Wassu Cocal, aldeia com o maior número de escolas indígenas em Alagoas, luta diariamente para manter a cultura viva através da educação 

    REPORTAGEM

   Ana Clara Mendes 

George Arroxelas Neto 

Por volta das 7h20 de uma quinta-feira, uma criança para na beira da estrada, em um trecho da BR-101, em Joaquim Gomes, interior de Alagoas, após descer um longo morro. Sozinha, ela olha cuidadosamente para os dois lados, certifica-se de que não há nenhum veículo e atravessa. Em seguida, deixa a estrada federal e caminha por uma de barro. O menino carrega nas costas uma mochila desproporcional ao seu tamanho e usa um uniforme escolar branco e azul. Com sagacidade, dribla as poças d’água deixadas por uma chuva que caiu na região na noite passada. Apesar de não chover mais, a temperatura ainda é baixa e a cor do céu é cinza. 

O pequeno índio de olhos grandes e redondos e cabelo liso interage com galinhas, cachorros e outros animais que dividem o pedaço de terra com ele. Mesmo sozinho, aparenta estar confortável com a rota e conhecê-la por completo. Com um semblante de satisfação, ele avista muros verdes claros, sobe uma pequena rampa e chega ao seu destino: a Escola Estadual Indígena Professora Marlene Marques dos Santos, situada na aldeia Wassu Cocal, área indígena localizada na Zona da Mata e aproximadamente a 84 quilômetros da capital alagoana. 

Após acelerar o passo e entrar na sala de aula, ele escolhe uma das carteiras e deixa o material escolar para se reunir com o resto da turma no centro do espaço. Apesar de acumular livros didáticos e alguns móveis, o local é espaçoso e o amontoado não atrapalha a circulação. As paredes são preenchidas por trabalhos dos alunos e normas de convivência, além de um mural que relembra as letras do alfabeto com palavras que remetem ao cotidiano e às suas tradições, como arco, balaio, cocar, flecha, oca, tacape e zarabatana. Quando todas as crianças estão aglomeradas e não é necessário esperar por mais ninguém, o professor dá início a uma oração e todos rezam o Pai Nosso em voz alta. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Se uma criança com base educacional tradicional entrasse na sala, o alfabeto direcionado aos índios para tornar as letras mais familiares não seria o único choque cultural, assim como os traços marcantes de alguns e os costumes.  Muito mais difere o que é vivenciado no ambiente escolar indígena.

 

O professor Josenildo Amaro da Silva explica que o calendário estudantil inclui, por exemplo, o aniversário da aldeia – celebrado no dia 2 de outubro – e a comemoração da conquista das terras indígenas, quando acontecem palestras com os índios mais velhos e pesquisas didáticas para resgatar os modos antigos de vida da Wassu Cocal através de documentos e fotos. Ele afirma ainda que as homenagens são seguidas à risca, e que eles mesmos elaboram o cronograma e planejam a programação anualmente.

Para Josenildo e outros professores, o ano letivo tem a duração de 204 dias. Entre esses dias, mais precisamente uma vez por semana, a matéria Cultura Indígena é aplicada aos estudantes. Durante uma hora, os professores tratam de termos da aldeia - do ponto científico e metodológico – para que os alunos saibam a origem das tradições, como as toadas, que são cantos escritos por eles; e também a produção de artesanato, como flechas.

 

Contudo, diariamente as crianças usam o material didático direcionado para os não índios. Nenhuma das páginas dos livros enviados pelo poder público aborda a história cultural como eles conhecem e muito menos são adaptados figurativamente para as vivências e crenças de crianças e jovens indígenas.

 

“A gente tinha que seguir o padrão e não tinha espaço, porque as disciplinas não davam uma brecha da forma como eram aplicadas. Mas e a nossa história, iria morrer? Como já está morrendo? Não, temos que contar tudo para as próximas gerações serem sabedoras e desfrutem desse pedaço de chão que estamos vivendo hoje. A educação tradicional fala dos portugueses, africanos... mas no momento de falar das raízes e origem dos indígenas, tudo foi esquecido”, reflete o educador.

Ajustando os óculos e dissertando inquietamente com os braços, como quem discute algo passionalmente, ele segue reforçando que o fortalecimento das raízes e origens da Wassu Cocal é o que eles colhem de todo o trabalho.

 

“Nossos parentes lutaram em prol dessa terra. Vivíamos oprimidos e, para ganhar dinheiro, trabalhávamos como escravos para os fazendeiros. Não tínhamos direito de pegar no dinheiro. Houve um período de fome na aldeia, período de crise, que foi superado com a união da comunidade. A luta continua. Lutamos no passado e sim, houve muito sangue. Hoje, temos que valorizar tudo isso. Vamos valorizar nossa esperança”, pontua.

 GUARDIÃS DA CULTURA  

O primeiro centro de ensino foi reconhecido legalmente em julho de 2003, através de um decreto que criou a categoria “Escola Indígena” no Sistema de Ensino de Alagoas, de responsabilidade do Estado, sendo nomeadas como Escola Estadual Indígena.

 

De acordo com a legislação, os povos indígenas têm direito a uma educação escolar específica, diferenciada, intercultural, bilíngue ou multilíngue e comunitária.  Conforme a Constituição Federal de 1988 e pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a coordenação nacional das políticas de Educação Escolar Indígena é de competência do Ministério da Educação (MEC). Cabe aos estados e municípios, a execução para a garantia deste direito dos povos.

 

A Wassu Cocal é a aldeia alagoana com o maior número de escolas no estado. Segundo os moradores, as quatro instituições da localidade são nomeadas com nomes de guerreiros, ou seja, pessoas que se destacaram na história recente e, principalmente, em torno da luta pela demarcação das terras.

 

No entanto, a missão das escolas, além de ensinar, é manter a cultura através da educação, para que ela não seja extinta. É dentro de pequenas salas, com chão de terra batida, que a história se mantém viva quando é contada com esperança para novas gerações.

 

“A escola indígena é um ato de resistência. Independentemente da família do aluno ser participativa ou não, o que procuramos fazer são ações que busquem o aprendizado dele. É um dever nosso. Se a escola não conscientizar sobre a nossa cultura, ela vai morrer mais rápido ainda”, defende Gilvânia Maria Honório da Silva, diretora da Escola Estadual Indígena José Manoel de Souza.

Por não ter uma linguagem própria e tampouco características físicas semelhantes uns dos outros, a forma de manter viva a história da aldeia, ter identidade e combater a discriminação sofrida por eles é a preservação da história e tradições. “Somos misturados com negros, com brancos... não temos aquelas características marcantes dos índios da Amazônia, por exemplo. Se a gente não assegurar a nossa cultura, o que é que vai me diferenciar de você?”, questiona a educadora.

 

Essa miscigenação na região nordestina se deve a invasão dos colonizadores. Na época, os índios foram feitos de escravos pelos brancos, se separando de suas comunidades e se envolvendo e procriando com pessoas negras e não indígenas.

 

Eleusa Juvita de Lima, diretora da escola José Maximo de Oliveira, também defende a luta pela cultura através do ensino. "É uma forma da gente prevalecer. Como foi a primeira cultura de origem do nosso país, a gente quer que prevaleça. Então a gente vive resistindo mesmo", expõe a diretora.

 

O último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, mostrou que Alagoas possui 16.291 indígenas. Na Wassu Cocal, são quase três mil nativos. Conforme Juvita, a minoria dos índios da região pratica a cultura.

 

"E se a gente, das escolas, não fortalecer isso, vai acabar mesmo. Essa é nossa luta travada: que as escolas permaneçam vivas, para que consigamos colocar 'lá dentro' dos alunos esse despertar para sua identidade", assegura a diretora.

 

Os principais agentes desta missão são os professores. As diretoras das escolas explicam que a preferência das instituições são professores indígenas, porém, não há proibições acerca de pessoas de fora da aldeia, caso haja a necessidade do educador.

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"A importância da educação escolar indígena é inquestionável, pois a escola tem a função de transmitir conhecimentos e valorizar a própria cultura através do currículo trabalhado nela. Em uma sociedade que desconhece os direitos das minorias, nada mais importante do que profissionais qualificados que possam fazer a manutenção da cultura, sem deixar de reconhecer a existência de outras", afirma.

 

A Uneal graduou 78 professores indígenas que já atuavam na educação básica, ou seja, no Ensino Fundamental, mas que não eram graduados para poder atuar no Ensino Fundamental 2 e no Ensino Médio.
 

LONGE Das RAÍZES 

Além da utilização constante da tecnologia e do contato com não índios, a falta de incentivo das famílias das crianças à cultura afasta cada vez mais os jovens de suas raízes. Com a globalização, costumes foram deixados de lado e novos elementos começaram a fazer parte da vida dos indígenas.

 

A chegada das igrejas evangélicas na região trouxe além de uma outra crença, a intolerância por parte de algumas famílias da Wassu Cocal. Na Escola Estadual Indígena José Manoel de Souza, a diretora explica que existem famílias que não permitem que a criança pratique a cultura na escola e realizem práticas tradicionais indígenas como dançar o Toré ou fazer pintura corporal.

 

“Já aconteceu de os pais verem as crianças pintadas e reclamarem. Um dia desses uma aluna de três anos falou aqui... ‘Ô tia, eu não vou dançar não, viu? Porque o pai e a mãe ‘disse’ que não era pra eu dançar’. Isso é um conflito para a criança indígena”, relata a Gilvânia.

 

A religião praticada pelos indígenas da Wassu Cocal é a Ouricuri. Gilvânia conta que alguns pais falam que eles estão “fazendo o que não prestam” e comparam os ritos da religião com a realização de macumba -  palavra popularmente usada para designar genericamente os cultos sincréticos afro-brasileiros. “A gente tenta passar também que não é desse jeito. É totalmente diferente. Tentamos trabalhar o respeito",  esclarece.

 

Esse distanciamento e a falta de divulgação sobre a história dos índios da região é um dos principais pontos de desinformação que gera preconceito com esses povos indígenas. Diferente do que muitos esperam, os índios do Nordeste não vivem isolados, à margem da sociedade ou sem roupas.

 

“Às vezes a gente vai visitar uma escola, geralmente em datas comemorativas, e as crianças perguntam: ‘como assim não estão nus?’. Aí é que vamos explicar como é realmente a nossa vida, rotina e costumes. Nós do Nordeste somos totalmente diferentes. Mas isso não é passado na história”, diz.

QUEM TOMA CONTA

A Fundação Nacional do Índio (Funai) em Alagoas trabalha com 12 povos indígenas, através de servidores que atuam na Coordenadoria Técnica Local (CTL) das áreas demarcadas – entre elas, a Wassu Cocal.

 

A servidora da Funai há 32 anos e professora indígena, Leonice Bezerra de Araújo, esclarece que até 1992 a educação indígena era de responsabilidade da Funai e do Ministério da Educação (MEC). Contudo, no mandato do ex-presidente Fernando Collor, um decreto colocou o comando a encargo dos estados e municípios.

 

“Nós ficamos de 1992 até 2003 meio soltos. Ninguém queria ter responsabilidade com os índios. Mas, mesmo no período do decreto, a Funai não deixou de prestar a assistência que estava na Constituição. Foi muito difícil. Na época não tínhamos tantas escolas, porém o orçamento era suficiente”, contextualizou.

 

Em 2004, os estados assumiram a responsabilidade sob as escolas de fato, mesmo contra a vontade dos índios – que preferem os municípios, pela proximidade com as aldeias. Além disso, esse foi o ano em que os nomes das escolas começaram a ser trocados; antes, todas tinham nomes de generais por conta do regime militar.

 

E essa não foi a única mudança que ‘abalou’ a linha de contato entre Funai e aldeias em Alagoas. Anteriormente, existia a Gerência de Educação Escolar Indígena na Secretaria de Estado da Educação (Seduc) – um setor específico para as questões dos índios. Atualmente, é incumbência da 12ª Gerência Regional de Educação (Gere) as questões indígenas.

 

“Era um setor peculiar e a gente sabia que tinha nossa sala, até um pouco isolada, mas era um porto seguro para os índios e para nós. Em 2010, da mesma forma como houve mudanças para a Funai, houve também para o estado. Nosso setor passou a integrar a Superintendência de Políticas Educacionais (SUPED), que inclui quilombolas, sem-terra, pescadores... Se já era difícil resolver nossa situação com um setor único, imagine agora com um grupo pequeno de servidores para resolver todas essas questões?”, indagou Leonice.

 

A servidora segue justificando que a fiscalização não é constante porque o trabalho se tornou descentralizado. “Fica complicado de fazermos visitas às escolas. Em alguns municípios, têm as Gerências Regionais de Ensino, como a Funai, mas só mudando de esfera, que é a estadual. É na mesma linha, mas não é um coordenador para cada município. De 2010 pra cá, veio uma independência que nós não somos notificados ou comunicados sobre tudo que ocorre nas aldeias”.

 

Em casos de irregularidades judiciais, em relação aos direitos dos índios ou das terras, as demandas são passadas para o CTL da Funai da determinada região. Dependendo da situação, se não for do alcance do CTL, a Fundação recorre ao Ministério Público Federal (MPF) – que tem uma sede em Arapiraca que trata de minorias.

 

Nas escolas, Leonice conta que um problema comum é a falta de servidores para repor os que se afastam das unidades. “O estado não quer que coloque ninguém, mas tudo depende do entendimento de cada Gerência”, fala.

 

O contato da Funai com os servidores e lideranças das aldeias é mais comumente feito pelo celular – através de e-mails ou por ligações telefônicas. “Em algumas aldeias, o serviço de celular não funciona, mas em casos de emergência nós temos o CTL, e-mails e por aí vai. O contato com todos os representantes é assim, mais comumente pelo telefone. Os nossos indígenas são contemporâneos”, afirma.

 

A reportagem entrou em contato com a Seduc, mas os questionamentos não foram respondidos.

  DESAFIOS PARA CONQUISTAR O ESSENCIAL 

A luta pela preservação da cultura através do ensino escolar trava ainda algumas outras batalhas. Na Escola Estadual Indígena José Máximo de Oliveira, localizada às margens da BR-101, as salas de aula são abarrotadas durante todo o dia. Isso acontece porque a unidade aplica as três modalidades de ensino (infantil, fundamental e médio), pela falta de um novo local apropriado para receber os alunos das turmas dos três últimos anos escolares.

Para acabar com o problema e deixar a circulação no local regular novamente, a diretora da instituição, Eleusa Juvita de Lima, pontua que a construção de um novo imóvel para o Ensino Médio foi solicitada. “Não temos laboratório, nem biblioteca. Estamos ‘imprensados’ e em três modalidades que não têm nada a ver”, avalia.

 

A falta de espaço culminou na construção de uma sala de aula separada, ao lado do imóvel. Lá, são realizadas as aulas do Ensino Infantil. Apesar de manter o ritmo das aulas para os pequenos, a obra nunca foi finalizada e as paredes que sustentam o imóvel ainda estão sem reboco.

 

E o efeito dominó causado pelo lento trâmite para a aprovação de verbas para novas obras não para por aí. Os alunos do ensino médio da José Máximo ficaram sem opção a não ser estudar no período noturno. Desde então, alguns estudantes já sofreram tentativas de assalto na beira da estrada, principalmente os que voltam para casa a pé, e reportaram os episódios à direção.

 

“Os assaltos vêm acontecendo com frequência. Muitos articulam ‘é comunidade indígena, não era pra ser assim’, mas a comunidade é cortada por uma BR. E sem contar que com o avanço, a gente tem contato com as cidades. Não é mais aquele tempo, tudo mudou e nós acompanhamos a evolução. Hoje tem de tudo, comportamentos sociais bons e ruins”, reflete a educadora.

De modo geral, a realidade enfrentada em decorrência de problemas estruturais perpassa as quatro escolas indígenas. Esses tipos de adaptações se tornaram comuns, tal afirma a professora Tamires Carla Santos do Nascimento.

 

“A nossa [José Máximo de Oliveira] está em um patamar bom em questão de estrutura, porque têm aldeias que nem têm prédio e as escolas funcionam dentro de casas ou de ocas. É uma realidade latente, assim como a desvalorização dos professores, e a cobrança diária. Tentamos vencer com o que podemos dar para satisfazer”, coloca.

 

No intervalo, a recreação é na beira da estrada. Caminhões passam a apenas poucos metros das crianças, mas a circulação dos veículos não impede a brincadeira no gramado. Para evitar tragédias e conter os riscos da pista, um muro para dividir o ambiente escolar também foi solicitado. Contudo, o pedido feito pelo corpo estudantil existe desde o surgimento da escola, em 2004.

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As dificuldades, segundo a diretora, estão na falta do cumprimento das leis relacionadas à educação de uma forma geral. “Além da falta de recursos para o que estamos precisando, temos carência de recursos humanos, então não conseguimos organizar a escola como se deve”, explica.

 

Como é de obrigação da Seduc, que atua através da Gere, os representantes das escolas indígenas são atendidos, mas a reclamação é sobre a falta de conhecimento em relação às particularidades da cultura indígena.

 

“A gente tinha uma gerência onde tratava apenas a questão indígena. Hoje não tem mais. Eles não têm conhecimento e nem preparo. Tentam aplicar o regimento do estado, esquecendo que cada povo tem suas especificidades”, desabafa.

 

LIÇÃO DE CASA: O FUTURO

 

Quando o assunto é o futuro da educação indígena, as sobrancelhas franzem e a expressão de medo invade o rosto de cada educador. Apesar da incerteza sempre ressaltada, há conforto: são os pequenos aprendizes que poderão colher as sementes plantadas, com muito afinco, por eles.

A professora Tamires Santos do Nascimento, da Escola José Máximo, assegura que a Wassu é uma das etnias que mais se adaptam a modernidade e, com isso, ao padrão de tecnologia, seguindo as mudanças da sociedade.

“Nossos alunos têm acesso a tudo. Um medo que temos é que eles venham a esquecer os costumes tradicionais, mas hoje em dia, diante do trabalho que é feito, eles mesmos cobram da gente práticas como do Toré, da dança, conhecer mais das lendas urbanas da aldeia, entre outras questões”, pondera, esperançosa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Entre quem ainda vive a infância, não é muito difícil de encontrar a cultura pulsante. Antes de chegar o horário do início da aula, a atenção de todos era para um jovem que usava tinta para fazer uma pintura corporal.

Com a ajuda de um pequeno talo de madeira, Elivelton, de 14 anos, desenhava traços indígenas com muita precisão e concentração em um de seus braços. Carismático, o índio explicou que o material utilizado como tinta é feito de carvão e jenipapo. A pintura pode durar até 15 dias no corpo e é uma das principais características da cultura indígena.

 

Elivelton contou que faz as pinturas desde os oito anos e que ele mesmo produz a “tinta”. Para utilizar outras cores importantes, como o vermelho, o adolescente colhe nas matas da região a semente Urucum.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os ponteiros indicam a hora da primeira aula na escola José Manoel de Souza e os alunos são os “sinos”: eles chamam uns aos outros nos arredores do prédio: “Vamos! A professora já entrou na sala e está chamando!”.

Um dos alunos do 9º ano é o João Pedro, também de 14 anos. Cursando a última série antes do ensino médio, ele conta que irá estudar no município de Novo Lino a partir do ano que vem. Ele terá que deixar o ensino indígena porque as aulas da modalidade acontecem apenas durante a noite, o que será inviável para o adolescente.

Apesar da distância, João garante que “quando crescer” quer ser professor na Wassu Cocal. “Acho muito importante e muito legal. Desde pequeno sei que quero ser professor e ensinar aqui na aldeia”, externou.

 

Voltando àquela quinta-feira do início da reportagem, na aula do Ensino Infantil, também encontramos cultura viva. O assunto era folclore e, junto a uma leitura com o professor, as crianças gritavam palavras como “cuidado” e “proteção” com convicção.

Mesmo que no contexto da história folclórica, as duas palavras resumem muito do propósito dessas aulas e do que resistência da educação indígena representa para o corpo estudantil das quatro escolas voltadas para os índios situadas na Wassu Cocal, composta por quase 3 mil pessoas, em meio a tantos empecilhos e desafios diários.

 

 

 

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Josenildo Amaro é professor do Ensino Infantil da Escola Professora Marlene Marques dos Santos. 

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O Ensino Infantil da Escola Estadual Marlene Marques dos Santos contam com cerca de 20 alunos por turma.  

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Diretora Gilvânia Maria Honório da Silva defende que a educação indígena é um ato de resistência. 

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A preferência são professores indígenas, mas há exceções. 

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Escola Estadual José Máximo recebe alunos do Ensino Infantil, Médio e Fundamental. 

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Pintura corporal é realizada com líquido produzido por carvão e jenipapo. 

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João Pedro tem o sonho de estudar pedagogia e atuar como professor na aldeia Wassu Cocal. 

Dança do Toré é regida por uma música chamada Toante, que é cantado por apenas um “cantador” ou “cantadora”. 

Na hora do recreio, as crianças brincam de futebol no gramado localizado à beira da estrada. 

CONFIRA A GALERIA DE IMAGENS:

De acordo com Mary Selma, coordenadora de Pedagogia para os professores indígenas da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), a necessidade dos professores indígenas atuarem nas próprias comunidades levou a Universidade a reconhecer a importância de formar esses educadores para assumir uma sala de aula e ministrar disciplinas específicas.

 

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